"Os humanos dizem que nascemos da união entre a rainha-feiticeira
Pasífa e um bode. Segundo contam, seu marido, o rei, não cumprira com um sacrifício prometido a
Zinadeus Astrapios, e este, para o castigar fez com que a rainha se apaixonasse por um bode... esta é a estória que a maior parte escutamos dos humanos e, como a maior parte de nosso povo é iletrado acreditamos nessa sandice, e nos conformamos em pensar que nossa existência é fruto de um acidente, de um castigo. Mas eu aprendi a ler, e visitei as terras imperiais, e conheci os arquivos da grande escola arcana em
Logopólis, e sabe o que eu descobri? Que há dois séculos atrás um dos nossos,
Glaarmááteós, um pelo-longo e também feiticeiro como eu, depois de longos estudos concluiu o seguinte:
Nada nesta história faz sentido, Pasífa não apenas era a rainha, mas também uma semideusa, filha do grande Hélios, e além disso, era uma feiticeira, e não qualquer feiticeira, mas a maior mestra da escola de transmutação que já andou sobre estas terras. Vocês realmente acham que uma feiticeira de tal poder seria tão facilmente manipulada como fazem parecer as lendas? Ou, como sugerem alguns, que uma filha dos deuses se acasalaria com animais selvagens? Além do que, porque Zinadeus Astrapios puniria a filha do deus Helios por conta da tolice de seu marido, um mortal?
Glaarmáátéos nunca encontrou uma resposta definitiva para nossa origem, mas fez um exercício de lógica interessante: os
bodes são os animais mais bem preparados para viver nas grandes montanhas e planaltos de ventos fortes, aonde os humanos e outras espécies tem grande dificuldade de sobreviver, e aonde os
orks reinavam sós, causando grande destruição sobre todos os povos civilizados do mundo. e sabemos, pelo registro histórico, que foi após os primeiros tratados entre os helenos e nossas tribos, que a expansão dos
orks pode ser contida.
Circe era uma mestra da transmutação, e, acreditava,
Glaarmáátéos, deve ter usado sua magia para misturar características humanas e animais para criar uma nova raça, capaz de ocupar estes territórios e proteger a civilização que ela tanto prezava.
Nós não somos um acidente, somos um presente de uma semideusa, uma bênção que permite a sobrevivência dos humanos e da civilização, e não importa que eles nos chamem de bárbaros ou nos temam, seguiremos sendo os guardiões das fronteiras - não pelo seu ouro - mas porque essa é a vontade dos deuses.